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sábado, 12 de setembro de 2009

casa de penhores parte2






2º ATO



CENA 7 - CASA DE DORA


A MÃE DEFUNTA, NO CAIXÃO, IMÓVEL, MAS DE OLHOS MUITO ABERTOS, VIGILANTES. O TIO, PENDURADO NUM CABIDE, PRÓXIMO AO CAIXÃO. COROAS DE FLORES DE TECIDOS DE PADRONAGENS DIVERSAS, COLORIDÍSSIMAS, ESPALHADAS PELA CASA.
PENUMBRA. CHOVE. SOPRA UM VENTO FORTE, SIBILANTE. RIBOMBAM TROVÕES E OS RAIOS JOGAM FLASHES DE LUZ SOBRE A MÃE E O TIO, ATRAVÉS DA JANELA.
RUÍDOS DE CARROS, BUZINAS, VINDOS DE FORA.

A PORTA SE ABRE, IMPULSIONADA PELO VENTO, E ENTRA UMA FIGURA DE CAPA PRETA, CORRENDO. A MÃE SE ASSUSTA O TIO SE TREME TODO.

MÃE - Afasta-te, Satanás!

DORA DÁ UMA GARGALHADA E RETIRA A CAPA COM UM GESTO RÁPIDO.
LUZES. ELA ESTÁ DE VESTIDO VERMELHO, RADIANTE.

DORA - Já chegou no inferno, mãe?
MÃE - Dora?!
DORA - O mundo desaba com Satanás na dianteira! (CORRE, FECHA A JANELA E A PORTA) Gostou da capa? Roubei de um padreco. Coitado do padreco, saiu correndo atrás de mim, tropeçou na batina e caiu de cara na lama. (RI)
MÃE - Você parece uma prostituta!
DORA - Estou loucamente feliz! (RODOPIA) Vou ficar rica e já não tenho você pra me encher o saco... quer dizer, em parte. Ai!, tenho vontade de sair por aí abraçando todo mundo e gritando: a vida é linda!, linda! Me tomem, me apertem, me comam! Ai, esse cheiro de terra molhada me faz tremer de tesão! (CANTA UMA MÚSICA SENSUAL)
MÃE - Filha ingrata, não botou um dia de luto pela morte da pobre mãe!
DORA - Ai, se eu tivesse um marido tesudo, eu ia comemorar dando pra ele alí fora, na chuva, gritando que nem gata no cio! Mas onde já se viu marido tesudo!...
MÃE - Prostituta!
DORA - Calma, Dora, calma. Agora é hora de trabalho. Você ainda não ficou rica. Não conte com o ovo no cu da galinha. (PEGA UM CADERNO, LÊ) Vinte coroas para o Ministério da Educação, vinte para o da Cultura - entrega em trinta dias. Quarenta coroas para o Ministério da Justiça - entrega em vinte dias... Ih, tá ruço! Ainda nem terminei as cinquenta do Ministério da Fazenda!

ACENDE UM CIGARRO. COMEÇA A TRABALHAR.

DORA - Vamos, mãos à obra, Dora. Você só conta com você mesma. Sua mãe, que era uma inútil, agora está imóvel. Seu marido, hum!, é um intelectual!

CANTAROLA ALGO. SUSPENDE A COROA QUE ESTÁ CONFECCIONANDO, ADMIRA-A.

DORA - Linda! Um barato! "Dona Dora, a senhora tem a ousadia dos grandes artistas!", foi o que me disse o vizinho do 203. (RI) Mal sabe ele que lancei a moda das coroas estampadas por falta do roxo-liso no meu guarda-roupa! É, mas vou terminar ficando sem roupa se não começarem a me pagar! Metade dos meus vestidos viraram flor de defunto! Assim que entrar uma grana, vou mandar fazer uma etiqueta pra valorizar o produto: "Dora Confecções Moribundas Limitada"!

TERMINA DE FAZER UMA COROA, COLOCA-A NO PESCOÇO, RODOPIA ALEGREMENTE. ARRUMA AS OUTRAS COROAS. ALGUMAS SOBRE O CAIXÃO DA MÃE.

DORA - Mãe, vou dar um alô aqui no seu caixão. Não que você mereça, mas... (COLOCA UMA COROA COLORIDÍSSIMA EMOLDURANDO O ROSTO DA MÃE) Hum, já melhorou o visual!

ENTRA EDUARDO, ENCHARCADO PELA CHUVA. DORA RODOPIA À SUA FRENTE, COQUETE, A COROA PENDURADA NO PESCOÇO.

DORA - Que tal? Não é linda?
EDUARDO - Um carnaval fúnebre!
DORA - Você não tem senso de humor. Todo mundo está adorando as minhas coroas!
EDUARDO - É, eles precisam de um pouco de cor pra fazerem de conta que estão vivos! (NT) Sai da minha frente. Me dá uma toalha.
DORA - Pare de implicar com os meus fregueses. Ai de nós se não fossem eles! São pessoas ótimas!
EDUARDO - Mortas!
DORA - Não é verdade. Deix'eu te enxugar pra você não se gripar... Tira as cuecas também, meu bem...
MÃE - Prostituta!
DORA - Até o pau encharcou... e encolheu!

OS DOIS RIEM. EDUARDO PROTEGE-SE COM A TOALHA.

DORA - Será que ele ainda estica? (BOLINA-O)
EDUARDO - Me deixa, mulher, tô cansado.
DORA - E ainda fala dos mortos! Quer uma birita pra se reanimar? Que pergunta!

ELA TRAZ PRA ELE DOIS DEDOS DE VODCA.

EDUARDO - Que miséria! (BEBE DE UM GOLE) Cadê a garrafa?
DORA - Tá no finalzinho.
EDUARDO - E o meu pijama?
DORA - Qualé, Eduardo, tá pensando que sou tua babá? Não abusa, senão perco o bom humor.

EDUARDO SAI DE CENA.

EDUARDO - (OFF) Não acho o meu pijama. Vai ver que virou flor de defunto!
DORA - Se ele ainda tivesse cor!...

EDUARDO VOLTA. DE PIJAMA E COM A GARRAFA DE VODCA.

DORA - Assim que pintar uma grana, vou comprar um pijama pra você. Ai, estou exausta! Vou ter que contratar alguém pra me ajudar. Todo dia aumenta o número de encomendas. Já tem gente encomendando com três meses de antecedência.
EDUARDO - Melhor negócio neste país, só supermercado!
DORA - Você não leva a sério o meu trabalho. Por puro preconceito... Acha que estou compactuando com eles (FRISA O "ELES"). E daí? São eles que me dão trabalho e, bem ou mal, estão aí. Os outros, nem existem!...
EDUARDO - (SEM TIRAR OS OLHOS DO JORNAL) Eles não deixam!
DORA - Estou de saco cheio de blá-blá-blá. Quero viver bem, sem sufoco de dinheiro, sem ficar contando tostões no fim do mês...Você, Eduardo...
EDUARDO - Não sou eu que crio os impostos...
DORA - Quero comer bem, me vestir bem, ter grana pra ir ao cinema, jantar fora...
EDUARDO - ... pra comprar o carro do ano...
DORA - É isso mesmo. É melhor do que ter um fusca de porta amarrada com barbante. Quero um carrão, zero quilômetro, a gasolina! Não há nenhum pecado em se viver bem, nem mesmo em ser rico. Duda, nós vamos poder viajar, vamos poder ir aos Estados Unidos, à Europa, à África! Ai, sou louca pra conhecer a África! (ESPERA. EDUARDO NÃO SE ENTUSIASMA. CHEIA DE INTENÇÕES) Duda, nós vamos poder visitar os países da União Soviética!
EDUARDO - Acabou.
DORA - Os países?
EDUARDO - A União.
DORA - (RI. AMOROSA) Duda, meu amor, você precisa me ajudar. Preste atenção, só um minutinho. (TIRA O JORNAL DA MÃO DELE) Olha, daqui a pouco eu não vou conseguir mais dar conta desse serviço sozinho. Vou ter que contratar uma, duas, três, sei lá quantas pessoas pra me ajudar na confecção...
EDUARDO - Mal começou já tá querendo botar os outros pra trabalhar pra você, é?
DORA - Espera, ouve. Não quero explorar ninguém, pelo contrário, vou abrir mercado de trabalho, melhorar a vida de algumas pessoas...
EDUARDO - Aprendeu rápido o discurso do patrão!
DORA - Há patrões e patrões. Vou pagar muito bem aos meus operários. Eles vão ter até participação nos lucros. Gostou? Agora, presta atenção, pra poder fazer esse negócio direitinho, respeitando todos os direitos do "povo injustiçado", eu preciso da tua ajuda.
EDUARDO - Tá me gozando?
DORA - Não!
EDUARDO - Então corta essa que eu não entendo de coroa de defunto.

PEGA O JORNAL. DORA O TOMA NOVAMENTE.

DORA - Espera. Não seja preconceituoso, é um negócio como outro qualquer! Mas eu não sei fazer negócio, preciso de alguém que dirija a fábrica. Um homem prático, dinâmico, capaz...
EDUARDO - Erro de pessoa. Contrate outro.
DORA - (ENÉRGICA) Você pode ser tudo isso, basta querer. Além do mais, a direção de um negócio a gente não entrega a qualquer um. É um absurdo que você entregue a outro a direção da fábrica. É dar atestado de incompetência!
EDUARDO - Não tenho nada com isso, o negócio é seu!
DORA - Mas o homem é você e somos casados em comunhão de bens. O que é meu é seu. Enriqueceremos ou ficaremos na merda juntos. Duda, pintou a sorte grande, a nossa vez, você não entendeu?
EDUARDO - Dora, eu...
DORA - Já sei. Você é um jornalista, um intelectual, mas, olha, você não vai deixar de ser nada disso. Só vai melhorar de vida e poder fazer o que quer, não depender de patrão... (DOCE) Duda, eu te peço, por nós, pelos teus filhos, tira tuas férias na revista e experimenta.
EDUARDO - Agora?
DORA - Sim, agora.
EDUARDO - Mas ainda não tem fábrica!
DORA - Comece a organizar o negócio. Olha, tenho aqui esse bolo de ordens de pagamento e até agora não consegui receber nada. Você conseguirá com o seu prestígio, seus conhecimentos...
EDUARDO - Não vou pedir favor a esses putrefatos.
DORA - Não é favor. Eles estão nos devendo. Você só vai cobrar uma dívida.
EDUARDO - Está bem, vou pensar.
DORA - Pense. Uf!
MÃE - Dora, dinheiro não é tudo. Pense no seu tio, que já está fedendo!
DORA - Tadinho do tio. Deix'eu te passar um alquinho, tio.

RETIRA O TIO DO CABIDE, ESPANA-O E COMEÇA A LIMPÁ-LO.
A LUZ MORRE.



CENA 8 - CASA DE DORA


CANTAROLANDO, DORA TIRA A POEIRA DOS MÓVEIS, DA MÃE, DO TIO. O NÚMERO DE COROAS DIMINUIU.

DORA - Mãe, só me resta este vestido que está no corpo. Se não pintar uma grana, vou ter que usar a sua mortalha...
MÃE - (OLHOS ARREGALADOS) Não!!!
DORA - É o jeito. Não posso parar a confecção agora. Vamos ficar ricos, mãe. Aí eu te compro uma mortalha belíssima, cheia de fios de ouro. Tiro as tuas jóias do prego e boto todas em cima de você. Você vai "fechar" aí no outro mundo! Vai se casar com algum graudão! Escute, você conhece algum graudão, algum desses meus fregueses?
MÃE - Conheço.
DORA - Conhece mesmo? Desses que ainda estão na ativa, mandando?
MÃE - São meus amigos. No outro mundo, somos todos iguais.
DORA - Então Cristo é comunista?
MÃE - Não diga blasfêmias.
DORA - São seus amigos e não tinha me falado, sua velha egoísta? Peça a eles pra pagar o que me devem.
MÃE - Não peço favores. (FECHA OS OLHOS)
DORA - Mãe, mãe, mãe. Velha sacana, nojenta! É só a gente precisar dela e ela se manda. Pois fique sabendo que se os seus amiguinhos importantes não me pagarem, vou te tirar até as calcinhas. Escolha: ou fala com esses caloteiros ou vai se apresentar pra São Pedro com uma mão na frente e outra atrás.

ENTRA EDUARDO. PARECE DE PORRE.

DORA - Já de porre a essa hora, Eduardo? Desse jeito você vai terminar perdendo o emprego e...
EDUARDO - Pitonisa!
DORA - Que que você disse?
EDUARDO - (AVANÇANDO PRA ELA) Pitonisa! Adivinha! Maga, medium, megera, bruxa!
DORA - (RECUA) Você nunca foi violento! Que que você tem?
EDUARDO - Estou bêbado.
DORA - Estou vendo. Vá vomitar, vá.
EDUARDO - Não estou bebado. Estou emputecido. Olhaqui o que que eles me deram junto com as férias. Olha, lê.
DORA - Aviso prévio! Meu Deus! Duda...
EDUARDO - É isso aí. Eles me demitem pra admitirem um incompetente que tope ganhar um salário mais de merda do que o meu. O pior... (EMBARGA A VOZ)
DORA - Meu amor, você não merece isso...
EDUARDO - O pior é que eu toparia ganhar um salário mais de merda do que o que já ganho. Cheguei a insinuar isso pra eles, mas os putos não toparam e ainda me aconselharam a não baixar o meu preço...
MÃE - Eles têm razão. Aprenda a se dar valor!
EDUARDO - Ainda bancaram os dignos senhores enquanto eu me rebaixava. Filhos da puta! Eu dei o meu sangue pela porra daquela revista, eu... (CHORA)
MÃE - Bundão! Homem não chora!
DORA - (FEROZ) Fecha a matraca, megera. (DOCE) Duda, um profissional do seu nível, logo logo arruma outro trabalho...
EDUARDO - Eles não se interessam por qualidade. Eles querem nomes, estrelas. Eu não fiz o meu nome, fiquei lá naquela redação, como um funcionário público da casa. Ninguém mais se lembra de mim.
DORA - E os teus amigos dos tempos da política?
EDUARDO - Pode ser que me arrumem algum bico. Mas não tem nenhum importante. Eles também engordam e envelhecem, como eu. Eu acabei, Dora.

AGARRA-SE A ELA E CHORA COMO UMA CRIANÇA.

DORA - (AFAGA-O) Chore, meu amor, desabafe... Duda, não chore, a vida pro homem começa aos quarenta. Até pra mulher, descobri isso. Estou começando a tomar conta da minha vida. Antes, eu trabalhava para os outros e estava mofando. Agora, não, estou construindo a minha vida com as próprias mãos. Não tenho garantias, mas tenho esperanças. Estou gostando tanto de viver! Tanto que tenho tido vontade de ter um filho!
MÃE - Filho, nessa idade! Desfrutável!
EDUARDO - (EM PÂNICO) Dora, não faça isso. Prometa que vai continuar tomando a pílula, prometa. (ELA SORRI, ELE SE DESESPERA) Não brinque com isso, eu não posso ser pai, estou desempregado. Já tenho que pagar pensão pra três, eu não posso... me prometa...
DORA - (MATERNAL) Calma, meu querido, só tenho tipo vontade! Vamos deixar pra quando a gente ficar rico, tá?
MÃE - Hum, dessa mata num sai mais coelho!
EDUARDO - Essas coroas de defunto estão te pirando. Você acredita mesmo que vamos ficar ricos? Pois sim!
DORA - Acredito. Ainda não pintou nenhuma grana, mas vai pintar. E já. Senhor diretor da "Dora Confecções Moribundas Limitada", à luta! Você vai começar a trabalhar agora!
EDUARDO - Não, deixa pra amanhã. Estou estourando de dor de cabeça.
DORA - Tome um analgésico que passa. Nada de deitar. Vai ficar pensando besteira e atrasando a vida. Olhaqui as ordens de pagamento. Vai à luta. (ENCAMINHA EDUARDO PRA PORTA COM DECISÃO) Ciao, amor. Jogo duro com os caras, hein! (ELE SAI) Ciao. (JOGA UM BEIJO). Ciaaaooo! (FECHA A PORTA. SUSPIRA EXAUSTA) Tomara que você consiga, Duda! Se não conseguir, nem sei...

CONTA AS COROAS.

DORA - Treze! Sorte ou azar? O Instituto de Controle da Mortalidade encomendou mais cem para os suicidas deste final de mês. Tá ruço! Ih, tio, você tá com um cheirinho meio podre! Vou lhe botar na janela pra pegar um sol.
MÃE - Cuidado com os urubus no seu tio.
DORA - Velha, você ficou realista depois de morta!
MÃE - Já não tenho ilusões! Cresci.
DORA - É, você esticou mesmo. Os mortos esticam. E perdem as ilusões, é? Perdem as emoções também, é? Me responda. Preciso saber. Você tem emoções? (A MÃE FECHA OS OLHOS) Sacana, já se mandou. (PENDURA O TIO NA JANELA) Não sei porque, mas pensar em pessoas sem emoções me dá um frio na espinha... E pensar que são elas que mandam na gente!... Não, Dora, tira isso da cabeça, você tá pirando. Ih, não, isola!

TOCA O TELEFONE

DORA - Alô... De Brasília? Não, eu não atendo mais pedidos de Brasília. Essa cidade está cheia de caloteiros... Não quero nem saber. Descansem em paz! (DESLIGA O TELEFONE) Mais um ministério moribundo! Nunca pensei que existissem tantos ministérios, e moribundos! Não tenho nada com isso. Há uma semana que como arroz, feijão e batata. Isso é o que me interessa. (METE UMA BALA NA BOCA) Vida mais maluca!

VAI PRA COZINHA. MEXE NO ARMÁRIO.

DORA - O feijão acabou.

COMEÇA A ESCURECER. ELA VAI À JANELA E RETIRA O TIO. FECHA A JANELA. ACENDE A LUZ. VOLTA PRA COZINHA. ENTRA EDUARDO.

DORA - (ANSIOSA) E então?
EDUARDO - Nada feito.
DORA - Como, nada feito? Explica.
EDUARDO - Eles não vão pagar.
DORA - Não vão pagar? Mas eles compraram, eles me encomendaram...
EDUARDO - Tinham que ter feito concorrência pública.
DORA - Eduardo, quer explicar essa porra que eu não estou entendendo nada?
EDUARDO - No serviço público, qualquer coisa que se compre tem que ser através de concorrência. Várias firmas apresentam propostas e a que oferecer menor preço, fornece o produto. É isso.
DORA - E que que a gente tem com isso?
EDUARDO - Nada.
DORA - E você não vai fazer nada? Vai se conformar?
EDUARDO - Passei o dia feito louco. Fiz o que pude. Os putos mandam a gente dum lado pra outro que nem bola de pingue-pongue.
DORA - Mas isso é um absurdo. A gente vai pagar por um erro deles?
EDUARDO - A gente sempre paga pelos erros deles.
DORA - Comigo não! O buraco é mais embaixo.
MÃE - Dora, não entre nessa onda de pornografia!
DORA - Vá pro inferno, sua moralista, sua hipócrita. Você e seus tubarões defuntos, esses indecentes que beberam o meu sangue e não querem me pagar. Pois vou tirar a sua mortalha pra fazer mais coroas pra eles. (ARRANCA A MORTALHA DA MÃE) E, se eles não me pagarem, tiro até as suas calcinhas!
MÃE - Filha maldita! Que tu morras de fome e sede! Que não tenhas sossego enquanto viveres! E quando morreres...

DORA ENTOPE A BOCA DA MÃE COM UM PANO.

DORA - Megera, boca do inferno! Agora fecha esses olhos bisbilhoteiros, senão eu te cego. (A MÃE FECHA RAPIDAMENTE OS OLHOS) Vai, vai ajustar contas com o diabo.

SENTA-SE, EXAUSTA, DEPRIMIDA.

DORA - Não, eu não mereço isso...

ELA CAI EM PRANTOS.
A LUZ MORRE.



CENA 9 - NO PREGO


O PREGO SOFREU UMA MODIFICAÇÃO: NO LUGAR DO GHICHÊ, HÁ UM AMONTOADO DE OBJETOS, FORMANDO UM CORPO. NO TOPO DESSE ESTRANHO CORPO, ESTÁ UMA CABEÇA DE HOMEM, QUE RESPONDE PELO APELIDO DE "DADDY".
ENTRA DORA, COM TRÊS COROAS ESTAMPADAS. TEM ASPECTO SOFRIDO, ENVELHECEU. ELA ESTRANHA O AMBIENTE, ACHA QUE SE ENGANOU DE LOCAL.

DADDY - É aqui mesmo a Casa de Penhores.

ELA SE ASSUSTA. PROCURA LOCALIZAR A VOZ.

DADDY - (DIVERTINDO-SE) Olhe pra cima... até você poder olhar de cima...

DORA O OLHA BOQUIABERTA.

DADDY - Pensa que sou o Anti-Cristo? Sou igual a você, apenas estamos em planos diferentes... apenas uma questão de angulo...
DORA - Prefiro me entender com o funcionário. Cadê o funcionário?
DADDY - (TRISTÍSSIMO) Foi despedido no último corte. A Casa de Penhores vive momentos muito difíceis, minha filha! Depois de tantos anos de trabalho, estou tendo que atender no balcão. Eu, o chefe!
DORA - O senhor é o patrão? E vai me atender pessoalmente?
DADDY - Vou atendê-la pessoalmente, claro.
DORA - Excelência...
DADDY - Pode me chamar de Daddy, paizinho. É como me chamam.
DORA - Me chamo Dora. Sou sua freguesa desde os tempos em que a Casa de Penhores só aceitava ouro...
DADDY - Bons tempos! Mas temos que nos adaptar à nova realidade... Em que posso ajudá-la, minha filha?
DORA - Eu não tenho mais o que empenhar. A última coisa que empenhei foi a geladeira... que nem fez muita falta...
DADDY - Eu compreendo. A situação está terrível, apesar dos nossos esforços...
DORA - Agora só posso empenhar os meus trabalhos. Sabe, eu confecciono coroas de defunto. Coroas muito especiais, em tecido de várias padronagens. Eu lancei essa moda e as minhas coroas estão sendo disputadas por pessoas muito importantes... Só que não me pagam...
DADDY - É, também as pessoas importantes sofrem dificuldades, aqui e alhures!
DORA - Então, eu trouxe estas três pra empenhar...
DADDY - Você quer me deixar aqui três coroas de defunto?
DORA - É...
DADDY - Mas isso é um agouro! Está me agourando?
DORA - Não, eu não faria isso, Daddy. Veja, são coloridas...
DADDY - E daí? Que importa a cor, se a gente sabe a utilidade? A senhora só poderia me ofender mais se xingasse a minha reverenda mãe!...
DORA - Desculpe, eu não tive intenção... Eu não podia imaginar... Meus fregueses são ministros de estado, deputados...
DADDY - Problema deles. Eu não vou admitir assim a minha morte. Tenho superstições, horror à urucubaca! Sou um empresário nacional, minha senhora!

DORA COMEÇA A CHORAR.

DORA - Eu não sei o que faça ... Meu marido ficou desempregado... Já não temos dinheiro nem pra comer...
DADDY - (PATERNAL) Calma, não chore, não posso ver mulher chorando. Eu entendo. Também tenho sofrido injustiças e até ingratidões! Sou um trabalhador como você. Um trabalhador que nem sempre recebe remuneção - ou sequer reconhecimento! - pelo que faz! Vou ajudá-la, custe o que custar.

DORA FUNGA, ENXUGA AS LÁGRIMAS.

DADDY - Você tem umas belas mãos!
DORA - Obrigada.
DADDY - Sou um esteta. A beleza me toca fundo! Gosto das suas mãos!
DORA - Obrigada.
DADDY - Quer empenhá-las?
DORA - Empenhar minhas mãos? ... Mas... mas são os meus instrumentos de trabalho!
DADDY - Não vou cortá-las, nem danificá-las... Não destruo o que é belo. Você só assina um papel, no qual reconhece que suas mãos são minhas, até que possa saldar a dívida. Não confia em mim?
DORA - Confio, confio... Mas é que pra trabalhar eu tenho necessidade de sentir minhas mãos muito presentes, muito minhas... Servem os pés?
DADDY - Deixe-me vê-los.

DORA TIRA OS SAPATOS E EXIBE OS PÉS.

DADDY - É, são bonitos... não valem tanto quanto as mãos, mas servem.
DORA - Mas... e o meu marido? Ele não vai gostar de ter uma mulher sem pés...
DADDY - Sem pés? Que idéia! Eu lhe darei um atestado de integridade física, incontestável!
DORA - É, se é assim... e quanto o senhor me dá pelos pés?
DADDY - Digamos... bom, considerando que já somos amigos... (FALA UMA QUANTIA IRRISÓRIA)
DORA - Só? Isso não dá pra nada!... (VOLTA A CHORAR)
DADDY - Eu sei que é pouco, minha filha. Mas são muitas as pessoas que precisam de ajuda. Minha jornada de trabalho tem sido de vinte horas. Já tive um infarto, operei o coração - tenho três safenas! Estou aqui por um milagre de Deus, só Ele sabe dos meus esforços! Cada um de nós tem que apertar um pouco o cinto em benefício da coletividade, não é mesmo?
DORA - Talvez o senhor tenha razão, mas eu já não tenho o que apertar...
DADDY - Todos temos. Basta ter boa vontade e otimismo. Por exemplo, dessa quantia a mais que valeriam os seus pés, você abre mão para que eu possa ajudar a outro tão necessitado quanto você.
DORA - O senhor parece um padre falando.
DADDY - Um padre à antiga, que os modernos são mais discípulos de Marx do que de Cristo!
DORA - Agora o senhor falou igualzinho à minha mãe.
DADDY - Leve meus respeitos à sua genitora.
DORA - Ela está morta.
DADDY - Que Deus a guarde! Vá, amanhã pode vir receber o dinheiro.
DORA - Só amanhã? Mas eu preciso agora, preciso pra ontem...
DADDY - Racionalizamos a burocracia, mas não a erradicamos ainda. Tenha paciência. (DORA VAI SAINDO) Espere. Nessa mesa aí à sua direita, há papeletas de doação. Preencha uma e assine.
DORA - Doação?
DADDY - Sim, é a maneira de dizer. Não se preocupe. Quando você pagar a dívida, devolverei a papeleta. Não confia em mim?
DORA - Que jeito!... Desculpe, confio, não sei...
ASSINA A PAPELETA E SAI.



CENA 10 - PRIMEIRO, CASA DE DORA. DEPOIS, CASA DE DORA E PREGO, SIMULTANEAMENTE.


JÁ NÃO RESTA QUASE NADA DOS MÓVEIS DA CASA. DORA E EDUARDO ESTÃO MAIS CANSADOS E ENVELHECIDOS. ELA TRABALHA. ELE BEBE.

DORA - O material está acabando... Se ao menos eu conseguisse terminar esta encomenda... É de uma empresa particular, pode até ser que me paguem...
EDUARDO - Desiste disso. Neste país, a gente só tem direito a pagar. Já se nasce devendo. Morre-se de fome, de medo, de desespero, de cabeça baixa, e rindo, o riso das hienas. Somos um povo atavicamente escravo. Meu Deus, que povinho de merda somos nós!
DORA - Você disse que ia consultar um advogado. Em vez disso, fica aí enchendo a cara.
EDUARDO - Já consultei.
DORA - Por que não me disse? Eduardo, por que você não me diz as coisas? Quer me ver louca?
EDUARDO - (DEBOCHADO) Que tal formarmos um casal tipo sado-masoquista, bem ao gosto da pequena burguesia? Você me idolatra e eu te esnobo. Eu sou o homem, o macho, o Deus e você... (CANTANDO) "Você não passa de uma mulher". Que tal, hein?
DORA - Eu não estou brincando. O que disse o advogado?
EDUARDO - Que estamos fodidos. (DÁ UMA GARGALHADA) Fodidos!
DORA - Bebado! Já te disse que não estou brincando.
EDUARDO - Claro que não. Você já não tem jogo de cintura, Dorinha. Te olha no espelho. Estás os cornos da tua mãe. Olha a tua bochecha, tá caindo no pescoço. (RI)

DORA AVANÇA PRA ELE EMPUNHANDO UMA TESOURA. EMPURRA-O. ELE CAI.

DORA - Filho da puta! Inútil! Vou te arrancar os culhões!
EDUARDO - (APAVORADO) Dora, Dorinha, eu tava brincando... Desculpe, foi uma brincadeira de mau gosto, reconheço... tô bebado...
DORA - Você vive bebado! (ATIRA LONGE A GARRAFA. APONTA A TESOURA PRO PESCOÇO DELE) Agora fala, seu babaca, fala. O que disse o advogado?
EDUARDO - Eu não posso falar assim... Olha, me mijei todo...
MÃE - Frouxo!
DORA - Fala assim mesmo, de cueca molhada.
EDUARDO - Deixa eu me levantar...
DORA - Levanta, anda!
ELE TENTA SE LEVANTAR, PERDE O EQUILÍBRIO. ELA VAI AJUDÁ-LO, ELE A AGARRA PELO PESCOÇO.

EDUARDO - O macho aqui ainda sou eu...
ELA DÁ-LHE UM SAFANÃO E VAI EM CIMA DELE, EMPUNHANDO A TESOURA.

DORA - Covarde! Macho porra nenhuma!
MÃE - Dora, não se duvida da macheza do marido!
DORA - Só não te mato pra não te dar alívio. Você vai ter que beber comigo até a última gota dessa...
EDUARDO - Cuidado, tá empurrando a tesoura...
DORA - Fala, desembucha agora!
EDUARDO - Não consigo. Já nem me lembro...
DORA - Vai ter que lembrar, nem que eu tenha que abrir a tua cabeça.
EDUARDO - Dora, Dorinha, ouve, presta atenção... Olha, será que você não percebe? Não sou eu o teu inimigo. Eu estou do teu lado, nós estamos no mesmo barco. Não é a mim que você está querendo matar... (DORA AMOLECE) Tire esta coisa do meu pescoço, pode dar em desgraça.

DORA CAI NUM PRANTO CONVULSO.

DORA - (GRITANDO) Por que que eu não tenho coragem de me matar? Por que?
EDUARDO - Eu me faço a mesma pergunta todo dia... Mas, calma, olha, pior do que está não pode ficar...
MÃE - Pode, porque você não quer trabalhar como homem!
EDUARDO - Dora, pare com esse choro... Isso me deixa confuso, não consigo raciocinar...
DORA - Me abrace. Estou com medo.

ELE A ABRAÇA FROUXAMENTE. ELA SE AGARRA A ELE.
ENTRA O LEILÃO NO PREGO. DADDY FALA SOZINHO, SOB UM FOCO DE LUZ RETANGULAR, COMO SE ESTIVESSE DENTRO DE UM APARELHO DE TV.
QUANDO A AÇÃO PASSA PARA A CASA DE DORA, A VOZ DE DADDY SOME, COMO SE TIVESSE SIDO RETIRADO O SOM DO APARELHO DE TV.

DADDY - Senhoras e senhores, vamos dar início ao grande leilão anual da Casa de Penhores, para o qual estão aqui presentes as mais altas personalidades dos meios políticos, empresariais e de sociedade. Conforme Vossas Senhorias podem observar, é imensa a variedade de objetos a serem leiloados hoje. Resolvemos então, para melhor proveito de Vossas Senhorias, leiloá-los em lote. No primeiro lote, temos: um porta-retrato de prata antiga, relíquia de uma tradicional família da chamada classe média remediada, hoje em extinção...

DADDY CONTINUA A FALAR, MAS JÁ NÃO SE OUVE A SUA VOZ.

DORA - Eu quis te matar... estou enlouquecendo...
EDUARDO - É isso que eles querem. Que a gente enlouqueça, se aliene de tudo, se destrua...
DORA - Pelo amor de Deus, me diz o que disse o advogado...
EDUARDO - Disse que processar a União é loucura. O processo vai rolar durante anos e, ainda que a gente ganhe, não leva...
DORA - Mas não tem uma saída? Duda, eu estou com a roupa do corpo, nós estamos comendo batata... Não é justo. Eu investi o meu trabalho, a minha vida nessas coroas... Isso não pode ficar assim...
EDUARDO - Ainda temos uma chance, remota... Vamos alegar que o teu produto é único, não existe similar na praça. Assim elimina o argumento da concorrência pública que a lei exige.
DORA - É único mesmo. Coroas de tecido estampado é invenção minha!
EDUARDO - E você ainda não registrou a patente.
DORA - Não tive tempo.
EDUARDO - Pois faça isso agora.
DORA - É, vou agora.

LEVANTA-SE MOVIDA POR UM NOVO ENTUSIASMO.

MÃE - Eu falei com um dos meus amigos importantes...
DORA - (CHEIA DE ESPERANÇAS) Falou? Que que ele disse?
MÃE - Que fazer compra sem concorrência pública é corrupção.
DORA - E daí?
MÃE - Ele não se mete em corrupção.
DORA - Safado, hipócrita! Você acredita nisso?
MÃE - (SONHADORA) Um homem muito ilustre!... Olhou nos meus olhos, pegou nas minhas mãos... parece interessado...
DORA - E você ainda fica se esfregando nesse ladrão!
MÃE - E o filho! Como eu queria que você tivesse se casado com um rapaz igual aquele! Um rapaz bonito, bem vestido, fino! Igualzinho ao pai. Está sendo treinado pra substituir o pai!
DORA - Na malandragem! Morre o pai, fica o filho. Isso não tem fim! (SAI)

DADDY VOLTA A FALAR NO PREGO.

DADDY - ... uma panela de ferro, da cozinha popular - em desuso -, excelente receptáculo para plantas na varanda. Uma Coruja de Ouro, o maior premio do cinema nacional, objeto extremamente decorativo para uma casa de campo. Esta coruja pertenceu a um grande cineasta, que pede para não ser citado... (SOME A VOZ DE DADDY)

NA CASA DE DORA, ENTRA HELENA. A MÃE ABRE APENAS UM OLHO.

MÃE - Chiiiii! (FECHA RAPIDAMENTE O OLHO)
HELENA - (IRÔNICA) É um prazer te encontrar!
EDUARDO - (IDEM) O prazer é todo meu!
HELENA - Neste edifício não tem interfone, não é? Na revista, eu chegava na portaria e ouvia o porteiro dizer pelo interfone: ela tá subindo...
EDUARDO - Saí da revista...
HELENA - Eu sei.
EDUARDO - É!
HELENA - Há três meses que você não paga a pensão dos teus filhos.
EDUARDO - Eu sei.
HELENA - E então?
EDUARDO - Nada posso fazer. Estou desempregado.
HELENA - E eu não posso pagar tudo sozinha. Sinto muito, mas vou ter que te meter na cadeia.
EDUARDO - Tem toda razão. (GOZADOR) Faça-se de mim segundo a vossa vontade.
HELENA - Farei. Você verá.

VAI SAINDO DECIDIDA.

EDUARDO - Helena, espera... a gente nem conversou...
HELENA - Pra que? Você já me deu a decisão!
EDUARDO - Espera, não é bem assim... Você tem razão de tá puta comigo... Tenho sido um péssimo pai... Mas não tenho culpa de estar desempregado... Estou procurando trabalho como um louco, mas, a cada dia que se passa, mais portas se fecham...
HELENA - Não estou nem um pouco comovida. Olhaqui, se você teve filhos por acaso, azar seu. Eu sempre quis ter esses filhos. Eu amo os meus filhos e estou disposta a tudo pra garantir a eles uma vida menos fodida do que a tua. Estou disposta a tudo, a tudo, até a matar!

EDUARDO AGARRA RAPIDAMENTE A TESOURA. HELENA RECUA ASSUSTADA.

HELENA - Tá me ameaçando?
EDUARDO - Não, tô me defendendo. É a segunda mulher que me ameaça de morte hoje. Vou desistir de mulher. Vou ser veado.
HELENA - Talvez seja só o que você tem pra dar...
EDUARDO - Ainda bem que você se convenceu que só me resta a bunda.
HELENA - Isso não me comove... e não comoverá tampouco o juiz...
EDUARDO - Olha, vamos acabar com essa frescura. Quer mandar me prender, manda. Não tenho nada a perder. Só não vai ser legal pros nossos filhos. Eles vão saber que a mãe botou o pai na cadeia...
HELENA - Não tente fazer chantagem comigo.
EDUARDO - Que que você quer que eu faça? Estou desempregado, fodido... Olha a minha casa, já não tem mais nada...
HELENA - Você adora se fazer de vítima. Vítima do sistema! É muito fácil ser vítima, difícil é ir à luta! Sabe que que eu acho, Eduardo? Você vive paralizado de tanta culpa. Até hoje, você carrega essa culpa masoquista de não ter sido preso, torturado, morto, como os teus amigos. Você queria ser uma vítima heróica da ditadura, mas sobrou nessa também. Os milicos não te deram importância.

EDUARDO APERTA A TESOURA. PARECE QUE QUER TRUCIDAR HELENA. EM VEZ DISSO, SUSPIRA, SORRI COM SUPERIORIDADE.
EDUARDO - Você perdeu o controle. Olhaí, tá toda trêmula. É falta de homem. Arranja um marido que passa.
HELENA - Você não passa de um machão vulgar.
EDUARDO - Virou feminista, sapatão?
HELENA - Virei e vou te meter na cadeia. (SAI)
EDUARDO - Vai, vai arrumar homem. (EXPLODE) Merda! Vocês não vão me destruir, seus filhos da puta! (ESPATIFA UM CINZEIRO NA PAREDE)

NO PREGO.

DADDY - Peço a atenção de Vossas Senhorias para o sexto lote, que contém peças verdadeiramente originais. Um par de pés, de unhas mal pintadas, calejados pela labuta cotidiana de uma jovem trabalhadora, imagem viva da nossa gente forte e saudável! Um par de seios, firmes, orgulhosos, apontando desafiadoramente o futuro! A peça pode ser colocada em um elegante e sedutor banheiro, à guisa de torneiras...

GARGALHADAS.



CENA 11 - CASA DE DORA


MADRUGADA. EDUARDO DORME SENTADO NO SOFÁ RASGADO, SUJO, ÚNICO MÓVEL QUE RESTOU. A MÃE ESTÁ DESPIDA, COM PANINHOS TAPANDO OS SEIOS E O SEXO. MÃE E TIO ESTÃO COBERTOS DE TEIAS DE ARANHA. O AMBIENTE É DE ABSOLUTA DECADÊNCIA.
ENTRA DORA, TRAZENDO PENDURADAS PELO CORPO VÁRIAS E DESBOTADAS COROAS DE DEFUNTO. DESFAZ-SE DAS COROAS. VAI À COZINHA, PEGA UNS PEQUENOS POTES DE TINTA E UNS PINCÉIS. VOLTA PRA SALA E COMEÇA A PINTAR AS FLORES DAS COROAS.

MÃE` - Dora, tire essas malditas teias de aranha de minha cara. Não estou vendo você direito.
DORA - Ótimo!
EDUARDO - (SONHANDO) Não, você não pode ficar, vão te matar... (GRITA) Juliana, Juliana...
DORA - Eduardo, vai dormir na cama. Eduardo!

ELE ACORDA ASSUSTADO.

DORA - Vai dormir na cama.

ELE CONTINUA ALÍ, APATETADO.

DORA - Vai, continua a sonhar com a tua amante guerrilheira, enquanto eu arrisco a minha pele...
EDUARDO - Eu te disse pra não ir...
DORA - Não aconteceu nada...
EDUARDO - Mas podia ter acontecido...
DORA - Pulei o portão dos fundos...
EDUARDO - É muito alto?
DORA - Uns três metros.
EDUARDO - Não se machucou?
DORA - Quase me feri nas pontas de ferro...
EDUARDO - O filho de Rommy Schneider, lembra-se?
DORA - Morreu espetado...
EDUARDO - No portão da casa do avô, parece...
DORA - Melhor que no portão do cemitério...
EDUARDO - Quantas coroas?
DORA - Uma dúzia.
EDUARDO - Só?
DORA - Já não se enfeitam túmulos como antigamente...
EDUARDO - E na saída, o vigia, não te viu?
DORA - Dormia numa cova.
EDUARDO - De sete palmos?
DORA - Raza.
EDUARDO - Muitas baratas?
DORA - Trouxe três.
MÃE - Dora, tire essas baratas do meu caixão.
DORA - Todo caixão de defunto tem barata, mãe.
MÃE - Tem uma entrando nas minhas partes íntimas!
DORA - Engula-a.
MÃE - Como ela me odeia! Ai de mim! Ai de mim! Ai de mim!
DORA - Cale-se! O público não gosta de tragédia.
EDUARDO - Quantas coroas faltam?
DORA - Vinte. Foi a maior encomenda até agora. É do Ministério da Fazendo, o mais importante. Estranho, eles não escondem que estão morrendo...
EDUARDO - Não precisam, continuam mandando!
DORA - Mesmo assim, somos vigiados... grampearam o telefone.
EDUARDO - Eles não perdem as velhas manias...

O DIA AMANHECE. ENTRA UM MENSAGEIRO.

MENSAGEIRO - Sou funcionário do Palácio.
DORA - Civil ou militar?
MENSAGEIRO - Eclesiástico. Acabo de dar a extrema unção a S.Excia.
DORA - Meus pêsames.
MENSAGEIRO - Não sou da família. Sou apenas um funcionário da Casa.
DORA - S. Excia. descansa em paz?
MENSAGEIRO - Está bem, obrigado.
EDUARDO - Não quer se sentar?
MENSAGEIRO - Estou em missão secreta.
EDUARDO - Por que tanto segredo? Todo mundo sabe!
MENSAGEIRO - Nunca se sabe... Mas vamos ao que interessa.
DORA - A nós ou ao senhor?
MENSAGEIRO - À S.Excia., naturalmente.
DORA - Antes de qualquer papo, S.Excia. é boa pagadora?
MENSAGEIRO - Evidentemente, minha senhora.
DORA - E paga com dinheiro vivo?
MENSAGEIRO - Vivo sim, embora podre.
DORA - É, serve. Mas, em nota?
MENSAGEIRO - Não, em ordem de pagamento.
DORA - Fora! Fora!
MENSAGEIRO - Não estou entendendo...
DORA - Out! Out!
MENSAGEIRO - A senhora não entendeu. Trata-se de uma ordem!
DORA - Caguei. Fora!
MENSAGEIRO - S.Excia. não admite que se cague na sua honrada cabeça.
DORA - Pois que solte a grana. Sem grana, não tem coroa.
MENSAGEIRO - Um estadista não pode prometer o céu, já disse S.Excia.
DORA ` - Pois que prometa o inferno remunerado.
MÃE - Deixe que eu me entendo com S.Excia.
MENSAGEIRO - (PARA A MÃE) Às suas ordens, madame.
MÃE - Eu disse que me entendo com S.Excia. Não falo com criados. Fora! E diga à S.Excia. que a rainha mãe manda-lhe seus respeitos! (FECHA OS OLHOS)

SAI O MENSAGEIRO. PAUSA.
A MÃE VOLTA A ABRIR OS OLHOS.

MÃE - Falei com S.Excia.
DORA - Ela paga?
MÃE - S.Excia. é muito humana. Ai, que homem charmoso, um garanhão!
DORA - Nojenta! A gente com fome e ela galinhando!
MÃE - S.Excia. é compreensiva, mas pode fazer represálias quando contrariada na sua vontade.
DORA - Represálias? De que tipo?
MÃE - Imposto sobre as coroas, maxidesvalorização do tecido, expurgo do arame...
DORA - Não, mãe, não! Pelo amor de Deus, diga a ele que eu não tenho mais como conseguir coroas, que já assaltei todos os cemitérios...
MÃE - Vire-se. (FECHA OS OLHOS)
DORA - Mãe, não vá embora, não me abandone assim, sua nojenta...

DESESPERADA, JUNTA GUIMBAS PELA SALA. FAZ UM CIGARRO. AS MÃOS TREMEM. ACENDE O CIGARRO. SORVE-O PROFUNDAMENTE.

DORA - Eduardo, vamos ao prego.
EDUARDO - Não, isso não...
DORA - Prefere morrer de fome?
EDUARDO - Vá você então... eu não posso me comprometer assim...
DORA - Já me empenhei até os dentes. Agora é a sua vez.
EDUARDO - Dora, o mínimo de dignidade...
DORA - Dignidade! Você não se aguenta de pé, seu imbecil.
EDUARDO - Prefiro morrer...
DORA - Vamos. Não temos tempo pra mentiras.



CENA 12 - NO PREGO

DADDY COCHILA.

DORA - Daddy...

DADDY DESPERTA ASSUSTADO E CONTINUA UM DISCURSO QUE O SONO INTERROMPEU.

DADDY - Viajei para o exterior em cadeira de rodas pra fechar um negócio que deu emprego a mais de mil pessoas! Voltem os olhos para trás e vejam o que era e o que é hoje a Casa de Penhores...
DORA - Daddy, os jornalistas já saíram...
DADDY - Calhordas!
DORA - Daddy...
DADDY - Já sei. Veio se empenhar. (RI, CÍNICO) Só falta... Como é, resolveu?
DORA - Resolvi, não me incomodo mais...
DADDY - Bem, você já não é uma "gatinha", mas ainda arranha... Deixe-me ver...

DORA LEVANTA A SAIA.

DADDY - Tire a calcinha.

ELA OBEDECE.

DADDY - É, não está mal... Cem "paus".
DORA - Você disse que dava duzentos.
DADDY - Na semana passada. Agora, o produto caiu no mercado. Já vinha caindo, caiu mais!
DORA - Mas tudo sobe de preço...
DADDY - O que tá em falta. O que sobra, desce.
DORA - Mas cem é muito pouco... (TENTA FAZER CHARME) Você não acha que mereço mais?
DADDY - (DEBOCHADO) Cê tá ótima! Mas tem-se que fazer justiça... Há pouco, paguei duzentos por uma de 25... Você está com 50...
DORA - Quarenta e oito...
DADDY - Muito mal conservados. Só estou fazendo o negócio pra lhe ajudar. Como é, leva ou fica?
DORA - Fica...
DADDY - Passe amanhã pra receber.
DORA - Meu marido também quer se empenhar...
EDUARDO - Não, eu não quero... (DESPENCA DE FRAQUEZA)

DORA TENTA LEVANTAR EDUARDO.

DORA - Quer sim. Meu marido é um intelectual, um homem muito inteligente, um dos maiores jornalistas do país...
DADDY - (IRÔNICO) Hum, e como se chama o gênio?
DORA - Eduardo Guimarães.
DADDY - Nunca ouvi falar.
DORA - Ele já foi muito conhecido... e é uma grande cabeça...
DADDY - Me parece meio morto...
DORA - Não, ele tá vivo!

ELA TENTA COLOCAR EDUARDO DE PÉ.

DADDY - Não acredito que essa cabeça aí tenha alguma idéia útil.
EDUARDO - (COM AS ÚLTIMAS FORÇAS) Você não me conhece, seu filho da mãe!
DADDY - Conheço um homem pelos sapatos. Olha o teu sapato.
EDUARDO - Olha o teu rabo, ô macaco!
DORA - Não estraga tudo, ô inutil!
DADDY - Oh, não me incomodo! Seu marido deve ser um desses tipos sonhadores de cabeça dura. Gente boa! Dou cinquenta pela cabeça dele. Só pra ajudar.
EDUARDO - Filho da puta! Não tô à venda... (CAI DESMAIADO)
DORA - Desculpe, Daddy, ele tá meio pirado... é a fome...
DADDY - Oh, já estou acostumado! Passe amanhã pra receber.

DORA ESTAPEIA A CARA DESMAIADA DE EDUARDO. ELE VOLTA A SI, MAS NÃO CONSEGUE SE LEVANTAR. ELA O ARRASTA. SAEM DE CENA.


CENA 13 - CASA DE DORA


DORA ESTÁ SENTADA NUMA CADEIRA, IMÓVEL, O OLHAR OPACO. MEXE COM A BOCA, MASTIGANDO BOLHAS DE AR. A MÃE A OLHA, COM UMA EXPRESSÃO DA MAIS ABSOLUTA FELICIDADE. EDUARDO TECE TEIAS COM UM BARBANTE, NUMA ATITUDE DEMENTE.
DORA OUVE VOZES: A VOZ DA MÃE, A DE EDUARDO, A SUA PRÓPRIA. A PRINCÍPIO, AS FRASES SÃO CLARAS, TÊM SENTIDO. DEPOIS, COMEÇAM A SE MISTURAR E SE TORNAM QUASE ININTELIGÍVEIS ATÉ O MOMENTO EM QUE DORA COMEÇA A SENTIR OS SINTOMAS DA EXPLOSÃO - A DESCRIÇÃO DAS SENSAÇÕES É ENTÃO CLARA.
FOCO BRANCO SOBRE A MÃE DURANTE A SUA PRIMEIRA FALA GRAVADA. A EXPRESSÃO DE FELICIDADE CRESCE DURANTE A FALA.

MÃE - (VOZ OFF) Dora, parece que o seu joelho começou a endurecer... Foi assim que aconteceu comigo! A morte me pegou de baixo para cima. Depois do joelho, vêm as cadeiras, o intestino, o fígado, o coração...
EDUARDO - (V.OFF) Tentei filar a bóia na casa de uns amigos...
DORA - (V. OFF) Não deu pra trazer nada?
EDUARDO - (V.OFF) Eles não tinham. Dora, tô trêmulo.
MÃE - (V. OFF) O intestino já endureceu, filha? Que bom que você vem pra perto de sua mãe! Cadê o álcool do seu tio, Dora?
DORA - (V. OFF) Se a cólera que espuma...

AS VOZES AGORA SE MISTURAM.

V. GRAVADAS - Cadê o álcool cadê o álcool S.Excia pergunta pelas coroas que encomendou você tem quarenta e oito horas pra mandar as coroas se não mandar já sabe Dora não comemos há três dias faça alguma coisa o coração já endureceu, filha? deixe essa mania boba de viver Dora Dora vamos ao prego vem filhinha vem filha ingrata S.Excia. disse que paga as coroas cadê as coroas de S.Excia? Dora cê tá os cornos da tua mãe Dora sai daí menina tem teia de aranha debaixo dessa cama será que o vizinho arranja um pouco de café? se a cólera que espuma a dor deixa dessa mania boba de viver filha se a cólera se a cólera...

UM ESTALO, SEGUIDO DE RUÍDOS ESTRANHOS. OS RUÍDOS VÃO AUMENTANDO DE INTENSIDADE À MEDIDA QUE DORA DESCREVE SUAS LOUCAS SENSAÇÕES.
VIBRANTE, ENLOUQUECIDA, DORA FALA E SE EXPRESSA TAMBÉM COM O CORPO: SEGURA A PERNA, PROTEGE A CINTURA, ADMIRA SEUS PEDAÇOS NO ESPAÇO, CORRE PARA JUNTAR OS SEUS PEDAÇOS E, FINALMENTE, TORCE-SE NO RISO.

DORA - Essa corrente elétrica subindo pela perna ai na cintura não tenho cócegas uma explosão meus pedaços no espaço como fogos de artifício olha a cabeça rolando sobre os edifícios a perna direita aterrisou na linha do trem aquela criança tá soprando o meu estômado meu estômago não é bola menino ha-ha-ha deix'eu juntar os meus pedaços ha-ha-ha se não tenho cuidado junto perna com ombro ha-ha-ha-ha-ha- pé com cabeça ha-ha-ha-ha-ha-ha cabeça com bunda ha-ha-ha-ha-ha-ha-ha-ha-ha-ha...

SILÊNCIO TOTAL. DORA OLHA EM VOLTA COMO SE ESTIVESSE ACORDANDO DE UM SONHO. ALGO NELA MUDOU. ESTÁ LOUCAMENTE LÚCIDA. HÁ UMA ESTRANHA VITALIDADE NO SEU OLHAR, NO SEU CORPO. ERGUE-SE DE UM PULO E CORRE PARA OS FUNDOS DA CASA.

MÃE - (DESESPERADA) Ah, Dora, de novo! Me levem pro cemitério. Não aguento mais esta casa!
EDUARDO - (CANTA, DEMENTE) Pobre Dora! Dora, Dorinha, tá louquinha, tá louquinha...

DORA IRROMPE NA SALA, ESFUSIANTE. VESTE A FARDA DE CORONEL DO TIO, MAS NÃO TROCOU AS SANDÁLIAS DE SALTOS ALTOS.
DORA - Mãe, diga pra S.Excia. que conseguirei as coroas. Palavra de Dora!
MÃE - (INDIGNADA) Dora, tire a farda do seu tio. É a farda de um herói!
DORA - (DEBOCHADA) Escolha: os brios do tio ou a vontade de S.Excia.
MÃE - A última. O tio entenderá. (NT) Filha, cê tá um belo coronel!
EDUARDO - Dora, Dorinha, louquinha, louquinha, louquinha...
DORA - Tô bonita mesmo, mãe? (APROXIMA-SE DA MÃE)
MÃE - Linda! Mas bote um pouco de perfume. Você fede a mofo.
DORA - O perfume acabou.
EDUARDO - Dora, Dorinha, louquinha, louquinha...

DORA ENFIA A PISTOLA DO TIO NO CINTO E VAI SAINDO.

DORA - Adeus, mãe!
MÃE - Espere. Tire essas sandálias. Não ficam bem para um coronel!
DORA - Não tenho sapatos.
MÃE - Pois bote as botas do tio.
DORA - Estão furadas de balas. Parece que ele só levou tiro nos pés!...
MÃE - Ora, um herói também corre!
DORA - Adeus, mãezinha!
MÃE - Honra o teu sangue, filha!
DORA - Quem viver, verá!
MÃE - Deus está conosco!

DORA SAI.

EDUARDO - Dorinha, louquinha...
MÃE - Ai, como os vivos me cansam! Adeus, mundo ingrato!

A MÃE MORRE FINALMENTE, COM UM GESTO BRUSCO DE CABEÇA PARA O LADO.
EDUARDO LIGA UM VELHO RÁDIO. ENTRA A VOZ DO LOCUTOR DE UM PROGRAMA CLASSE C.

LOCUTOR(OFF) - Comunicamos o falecimento do empresário Carlos Henrique Bianchi da Cunha Albuquerque, ocorrido na madrugada de hoje. Sua mulher, filhos e amigos convidam para o velório, que terá início às 14 h, na sala 2 do cemitério São João Batista. Comunicamos o falecimento do empresário Carlos Henrique Bianchi da Cunha Albuquerque.

ENTRA UMA MÚSICA.



CENA 14 - SET DE UM RICO VELÓRIO.

A VIÚVA CHORA ALTO DEBRUÇADA SOBRE O CAIXÃO DO MORTO. BURBURINHO DE MUITAS PESSOAS EM OFF.
SURGE DORA, DE FARDA DE CORONEL E SANDÁLIAS ALTAS. APONTA A PISTOLA.

DORA - Psiu! Quietinhos! Isto é um assalto! Passem as coroas... não, as senhoras, não, as coroas...



CENA 15 - CASA DE DORA

EDUARDO PREGA EM UM PAINEL MAIS UM RECORTE DE JORNAL. NO ALTO DO PAINEL, OS TÍTULOS: "SÃO JOÃO BATISTA", "CAJÚ", "VILA ROSALY"

MÃE - Os vivos não têm o menor caráter quando estão com fome! Chega, vou para o Além! Adeus.

EDUARDO JOGA DISTRAIDAMENTE UM LENÇO SOBRE A CARA DA MÃE.
ENTRA NOVAMENTE A VOZ DO LOCUTOR DE RÁDIO.

LOCUTOR(OFF) - E atenção! Os cemitérios estão em polvorosa e os defuntos intranquilos. Vejam as manchetes das páginas policiais de hoje: Jornal do Brasil, "Louca dos Velórios Ataca Novamente", O Globo, "Defunto Assaltado na Gávea Pequena", Tribuna da Imprensa, "Defunto Rico Tem Segurança à Cabeceira", O Dia, "Coronel de Saltos Altos Assalta as Coroas"! (RISINHO) É mole?






CENA 16 - SET DE CEMITÉRIO

MONTADA NA ESTÁTUA DE UM TÚMULO, DORA OPERA UM MOLINETE. NA PONTA DA LINHA, ILUMINADA, SOBE UMA GRANDE COROA, COMO SE ASCENDESSE AOS CÉUS.

VOZ DE MULHER - (MARAVILHADA) Milagre!
DORA - Milagre! Mãe, vamos sair da merda, vamos enriquecer, mãe!

DORA DÁ UMA GARGALHADA.


FIM



Fonte: http://www.theatro.ocrocodilo.com.br/


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